Adolescência
Da minha janela quadrada
Envidraçada e sem frestas
Posso ver a rua
Às vezes batida pelo sol
Às vezes molhada de chuva
Chuva com gosto de terra
Sol sabendo à aventura
Porque não me atrevo ainda
Abrir a porta da casa
E ir de encontro ao destino?
Talvez a porta não se abra
Não me permitam a passagem,
Talvez eu salte a janela...
Quem sabe?
Certo é que preciso ir
Pois se ficar
Ah! Se ficar...Eu não vivo.
Mas se for...Ah!
Se for...
Talvez me perca no tempo
E voltar seja impossível
Talvez a chuva vire tempestade
Um raio cruze o espaço
E nesse clarão de súbito
Possa ver além da estrada
Quem sabe?
Talvez o sol se esconda
Por trás de nuvens sombrias
E eu atento, porém sem rumo
Precise emprestar da coruja
Os coruscantes olhos
Pra perscrutar os caminhos.
São tantas as incertezas
São tantas as armadilhas
A vida me espera lá fora
Talvez não precise ir
Mas se ficar...Ah!
Se ficar...Eu não vivo.
As estrofes acima tentam exprimir o dilema próprio dessa etapa da vida onde a necessidade de libertar-se das amarras paternas para conquistar sua identidade leva por vezes o adolescente a tal estado de inflação que os inclina a realizar vôos às vezes tão perigosos e inconsequentes como o do jovem Ícaro. Não é sem motivo que os sonhos juvenis são recheados de imagens que lembram subidas às alturas e quedas abruptas. Estes sonhos constituem-se numa tentativa do inconsciente de adverti-los sobre a necessidade de reflexão e do cultivo da virtude mais necessária nessa fase da vida: a da humildade.Aos Pais cabe ser aquele solo firme adquirido através do autoconhecimento e dos valores refletidos e consolidados e da humildade de se dispor a dialogar e também a aprender com o filho. Um solo que não se constitua em pântano que impeça o voo e nem terreno arenoso onde não se pode pousar quando for necessário.
Otilia B.Rosario